22 outubro 2006

Histórias de serenatas

No post anterior falei-vos do enquadramento geral das noitadas de serenatas; agora vou discorrer um pouco sobre algumas histórias que sucederam nessas gloriosas noites:
Primeiro queria referir o nosso grande amigo PP para quem fizémos uma porrada de serenatas. Andava sempre a fisgar uma nova e sempre que assim era lá tínhamos mais uma serenata. Se alguém se lembra de quantas foram só à conta dele que acrescente em comentário. Eu só me lembro que foram muitas.
Depois há a história do PL: não fazia parte da Tesoural Tertúlia, mas tocava guitarra portuguesa e nessa noite tínhamos juntado a nossa malta ao grupo de amigos em que ele se inseria e que eram sobretudo do meu ano (1990). Às tantas pergunta ele a alguém que estava inteirado do percurso:
- Agora para onde vamos?
- Vamos à namorada do fulano de tal
- Namorada??????, pergunta ele espantado e que desconhecia os procedimentos que descrevi no post anterior - então se já está engatada para que é que se vai perder tempo com ela??!!??
Depois temos a história em que o protagonista é outro (chamêmos-lhe X) e que decorre numa noite de serenatas que não foi organizada pela Irmandade das Sombras.
Do que me lembro estava a manhã a raiar e estava a terminar mais uma noite de serenatas. Como às 8h00 grande parte dos presentes tinham uma aula de Direito do Ambiente, decidimos ir tomar o pequeno almoço e ir para a aula directos. Fomos a uma padaria ali para o lado dos Olivais onde por acaso dos acasos encontrámos duas “estudantas” que também íam tomar o pequeno almoço (vinham de uma discoteca). Enquanto se esperava que a padaria abrisse palavra puxa palavra, a malta juntou-se e não sei como uma delas (a outra não me lembro) decide-se a vir connosco para a Faculdade. Fomos para o bar e a menina era o centro das atenções como estava bom de ver. Enquanto esperávamos pela hora da aula abancámos no bar e pusémo-nos a tocar e é aqui que o tal X faz o seu avanço: enquanto tocava e cantava começa a fazer descaradamente olhinhos à pequena. Esta não se faz rogada e como era estudante de Direito decide-se a vir assistir à aula. Foi demais. Quando estávamos a entrar para a fila de cadeiras do anfiteatro ela dá a sua ajudinha: vira-se para o rapaz (chamêmos-lhe Y) que ía entrar atrás dela e pede-lhe delicadamente:
- Não te importas que aqui o X fique à minha beira?
O desgraçado do Y bem queria ser ele a ficar, mas lá fez a vontade dela e deixou passar o X.
Durante a aula não sei o que se terá passado, mas sei que no final o X e a “estudanta” de Direito arrancaram logo para a varanda que era mesmo ao lado do anfiteatro – hoje julgo saber que essa varanda foi também transformada num novo anfiteatro – onde começaram a curtir, dando mais uma cabal demonstração do poder da música sobre o sistema hormonal feminino.
Finalmente há a famosa serenata do Lar Jesus Maria e José. Terá sido em 1993 ou 1994.
Antes de prosseguir é de notar que ir aos lares de estudantes cantar serenatas era muito frequente e normal, dado que mesmo que nenhum dos que estivéssemos a fazer as serenatas conhecesse ninguém naquele lar específico, era sempre uma festança porque as miúdas adoravam e mandavam sempre umas bolachinhas ou uns mimos do género. No caso do Lar Teresiano, chegavam a descer um cestinho com os tais miminhos, entre os quais sempre umas garrafas de vinho. Aquele cesto a descer pela janela era mítico e as idas ao Teresiano espectaculares. Era sem dúvida o meu preferido.
Mas, voltando à história, naquela noite fomos especificamente ao ao Lar Jesus Maria e José, porque as namoradas de dois de nós (eu era um deles) moravam lá. Mas ao contrário de outros lares em que a coisa era fácil porque as janelas estavam viradas para a rua ou porque era simples saltar as grades e ir para um jardim por baixo das janelas cantar, aquele tinha um muro de uns 2,5 a 3 metros que teríamos de transpor para conseguir estar minimamente perto das janelas. Apesar da coisa não ser fácil íamos mesmo fazê-la custasse o que custasse, mas nas vésperas do dia marcado a sorte deu-nos uma mão para ajudar à árdua tarefa ou, mais concretamente, deu-nos uma escada: ao ir levar a minha namorada ao lar reparei que estavam a fazer umas obras e existia uma escada que nos ía dar uma grande ajuda, pois permitiria que em vez de estarem uns 20 marmanjos a trepar o muro apenas trepasse um que lançaria a escada permitindo aos outros subir com toda a facilidade.
Assim sendo na noite a coisa foi simples: naturalmente que eu fui o marmanjo que subiu ao muro apoiando-me no que existia (talvez um caixote do lixo e um ou dois apoios do tubo de uma caleira) e lá alcancei o parapeito. Em dois minutos estava lá em cima e em meio estava a escada posta. Começaram a subir os outros e eu passei para o lado de trás do lar onde sabia que era a janela da minha namorada e da namorada do meu outro amigo (VM) que eram as especiais destinatárias da serenata. Esperei que chegassem os outros: o primeiro foi o Valter; o segundo... não foi ninguém!!! Passaram-se 5 minutos, demasiado longos para que mais ninguém tivesse trepado a escada e estivesse já junto de nós. Voltamos, portanto, atrás para ver o que se passava e foi fácil de perceber: a directora do lar estava à porta e interceptara o terceiro de nós que passava da parte da frente (onde entráramos) para a parte das traseiras. Segundo depois me contou esse terceiro (eras tu Batinas, ou era o AM? - já não me lembro) a irmã abriu a porta mesmo no momento em que ele ía a passar e perguntou:
- O que está a fazer aqui?
- Bem... eu acho que me enganei no caminho - respondeu este voltando para trás. E todos a partir de mim e do Valter não conseguiram ir mais além.
Resumindo fomos postos fora do lar sob ameaça de ser chamada a polícia e tivémos de cantar da rua das traseiras a uma distância inacreditável das janelas. Como retaliação na semana seguinte saiu no Diário de Coimbra um artigo a protestar contra a ditadora da directora do lar, que queria dar cabo das tradições coimbrãs.
Quanto à serenata em si valeu pela intenção e não deve ter corrido muito mal, porque tanto eu como o meu amigo estamos hoje casados com essas mesmas duas meninas a quem fomos fazer a serenata.
Bom estas são as melhores histórias de que me lembro. Venham de lá os vossos comentários e quem se lembrar de outras pode muito bem postar outro artigo. Quanto a mim quando tiver mais inspiração vou escrever sobre a evolução das noites de serenatas para a criação do Coral do Cifrão, o que até vem a propósito do facto de se estar quase a comemorar mais um aniversário.

3 comentários:

Carolus Alvus disse...

Então eu que já andava há uns dias a engendrar uns artiguitos sobre serenatas, descubro agora que o Brandalius se me antecipou!...
E que dois artigos! Os meus parabéns!!
Seja como for, ainda há umas valentes histórias de serenatas e actuações da Tuna de Economia para contar.
Para finalizar o comentário, e apenas em jeito de complemento, queria lembrar que o PL (o da guitarra portuguesa) acabou por "comer do seu próprio veneno" quando um dia, já para o final do seu curso, veio ter comigo a pedir uma serenata.
O procedimento era habitual nele e eu não estranhei uma vez que os amigos dele, volta e meia, pediam-lhe uma serenatita.
Assim sendo, perguntei-lhe logo para quem seria (a pergunta habitual era mais do género "mas por alma de quem é que é?"), ao que ele me respondeu, meio envergonhado (nunca percebi bem porquê), que era para a namorada dele...
Era o momento pelo qual tanto se havia esperado; o PL queria fazer uma serenata à namorada!...
Imediatamente lhe disse que contasse connosco, que jamais faltariamos a uma serenata pedida por um amigo que sempre comareceu às que lhe pedimos. Para rematar, e mais ou menos como quem não quer a coisa, perguntei ainda: "Mas, ouve lá, se a gaja já está engatada, para que queres tu fazer-lhe uma serenata?!"
Claro está que nessa noite não falhámos e a serenata até correu muito bem.
Já agora, Brandalius, sabes por onde anda esse PL???

Batinas disse...

Dois grandes artigos, Brandão. E ainda bem, pois eu já começava a ponderar mudar o nome do blog para memóriasdobatinas.blogspot.com!
Já agora, quem foi interceptado pela velha freira fui eu; ela surgiu, muito pálida e vestida de branco - parecia um fantasma. Começa a perguntar: "mas o que é isto? o que é que se passa aqui"; eu tentei-me esconder na sombra, mas ela, dando uns passos, viu-me e, já dirigindo-se a mim, perguntou: "quem é você? o que é que se passa aqui?". Não a deixei continuar e lá lhe disse, já descendo as escadas, que me devia ter enganado no caminho. O resto, foi o que está escrito.

Georgius Brandalius disse...

Caríssimos,

em primeiro lugar obrigado pelos elogios aos artigos. Normalmente quando vejo os que o Batinas tem escrito também adoro e revivo muitas coisas magníficas, mas não tenho vindo a terreiro elogiá-los. De qualquer forma aqui fica a nota.

Alvus: desculpa lá ter-te ultrapassado. Foi uma noite de ínsónia e inspiração e... TAU!!!

Quanto ao PL não tenho ideia por onde ele ande. Se por sorte ele lêsse isto poderia ser que se acusasse, mas acho altamente improvável.