26 outubro 2006

Mais Histórias de Serenatas

Após a leitura dos últimos artigos do Brandalius enchi-me da coragem que me faltava e decidi-me a escrever algumas das histórias ocorridas nas serenatas em que participei.
Esta primeira é-me de sobremaneira querida, não pela piada que possa ter (que é pouca ou nenhuma), mas por envolver a Praxe Académica de Coimbra no seu sentido mais lato.
Quero com isto dizer, conforme é do conhecimento geral, que a Praxe Académica de Coimbra deve ser entendida como o conjunto dos usos e costumes dos estudantes da Academia de Coimbra, pelo que, quando falamos de Praxe, não estamos só a falar de mobilizações a caloiros, trupes, julgamentos, latadas e queimas das fitas, mas sim de tudo o que se possa associar à vivência académica.
Esta definição, que me é muito cara, é uma das coisas que mais custam a tolerar aos membros do movimento anti-praxista. Isto porque, a própria atitude anti-praxista (qualquer que ela seja) é, na verdade, uma atitude praxista (isto dá-lhes completamente a volta ao miolo!!).
Bem, depois desta pequena introdução, passemos aos factos propriamente ditos.
Estava eu na minha quarta matrícula quando recebi por parte do Brandalius um convite para mais uma noite de serenatas encomendada por alguns dos seus colegas de curso.
Não sei bem porquê, mas por esses dias, o meu amigo não podia dispor da sua guitarra, pelo que eu tive que lhe emprestar a minha e tocar cavaquinho.
Lá se combinou, como (quase) sempre, o primeiro encontro no Café Madeira para definir o percurso e “olear as goelas”. Após isto, e já próximo da meia-noite, saímos para “o que tinha que ser feito”. Nessa noite (como acontecia volta e meia) o São Pedro não esteve pelos ajustes e, para mostrar o seu desacordo com semelhante atitude de quem devia estar em casa a estudar, resolveu presentear-nos com uma chuvita, o que era péssimo para os instrumentos. Como a chuva parecia ser pouca, aproveitámos a entrada da Escola Secundária José Falcão para nos abrigarmos e afinar o instrumental.
A chuva parou próximo da 1h da manhã.
Estávamos nós já prontos para partir quando aparecem vindos sabe-se lá de onde o AS e o Marralheiro que na altura eram semi-putos e membros da TTIS e aos quais eu convidei para se juntarem a nós.
Ora, um dos “encomendantes” da serenata não suportava o Marralheiro, creio eu que foi por alguma discussão praxística em que o nosso “semi”, como era seu hábito, levou a melhor, e não se contendo mais disse-lhe qualquer coisa do estilo:
- Sabes que não podes andar pela rua a estas horas. Se não desapareces já daqui vou ali a minha casa buscar a minha colher de pau para te ir às unhas.
Ouvindo isto, e não querendo estragar a noite aos seus dois amigos (eu próprio e o Brandálius), o Marralheiro já se preparava para seguir o seu caminho quando eu me cheguei ao interpelante e disse:
- Ora bem, estes rapazes estão aqui a convite meu. Se tu lhes queres ir às unhas, estás no teu direito e podes ir a casa buscar a colher de pau. Mas fica desde já sabendo que se eles forem embora, eu também vou com eles.
Isso, como é óbvio, significava o fim da serenata uma vez que comigo iriam a guitarra e o cavaquinho ficando os instrumentos reduzidos ao impressionante número de zero.
Medidas bem as consequências, o “encomendante” decidiu-se a não cumprir com o prometido e a ter que suportar a presença do AS e do Marralheiro no que restou de noite.
O mais engraçado da história toda é que os Estatutos da TTIS obrigavam na altura a que todos os seus elementos com categoria igual ou superior a puto trouxessem consigo uma colher de pau, sempre que andasse de capa e batina, e eu trazia a minha comigo.

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